O Silêncio da Verdade: A Era da Pós-Informação

Vivemos num tempo em que a informação deixou de iluminar. Multiplicou-se até se tornar ruído. A cada segundo, milhões de palavras cruzam o planeta em direções contrárias, misturando factos, crenças e emoções numa névoa que já ninguém consegue decifrar. A verdade, outrora sólida, tornou-se líquida — moldável ao gosto de cada algoritmo.

A pós-informação não é ausência de dados, mas excesso deles. E o excesso cega. Quando tudo é notícia, nada é essencial. Quando todos falam, ninguém escuta. As redes sociais, que nasceram para aproximar, transformaram-se em arenas de exibição e fúria; os media, pressionados pela urgência e pela audiência, substituíram o tempo pela velocidade.

O resultado é um mundo saturado de opinião e pobre em discernimento. A verdade não desapareceu — apenas se escondeu atrás da espuma do imediato. Para reencontrá-la, talvez seja preciso recuperar o silêncio: o espaço mental onde o pensamento amadurece antes de ser publicado.

Num tempo que confunde barulho com relevância, pensar tornou-se um ato de resistência. E, paradoxalmente, é no silêncio que a palavra volta a ter sentido.

 

© Pedro Miguel Rocha