A felicidade nunca foi uma fórmula. É por isso que escapa a quem a tenta explicar demais. Para uns, habita no silêncio de uma casa ao fim do dia; para outros, vive no rumor do mundo, na estrada aberta, no aplauso, na partilha. Há quem a encontre na fé, quem a procure no amor, quem a descubra na criação, quem a construa na resistência. Nenhum caminho é igual — e isso não é um erro: é a condição humana.
Vivemos em latitudes diferentes, com histórias distintas, línguas diversas, memórias que não se tocam. O que faz sentido num lugar pode parecer inútil noutro. O que salva uma vida pode não bastar para outra. A felicidade, como a vida, é sempre pessoal. Não se mede, não se compara, não se exporta.
E, no entanto, há algo que nos une. Por trás de todas as diferenças culturais, sociais ou espirituais, há um desejo comum, silencioso e persistente: viver com sentido. Sentir que a nossa existência não passou em vão. E, quase sempre, esse sentido surge quando ultrapassa o “eu” e toca o outro. Poucas coisas nos aproximam mais da felicidade do que fazer alguém feliz.
Talvez seja por isso que a felicidade nunca seja inteira quando é solitária. Ela precisa de eco. Manifesta-se num gesto simples, numa palavra dita a tempo, numa presença que não abandona. Não é grandiosa; é discreta. Não grita; reconhece-se.
Num mundo obcecado com receitas rápidas para ser feliz, talvez o mais belo ato de coragem seja aceitar isto: cada um segue o seu caminho, ao seu ritmo, com as suas feridas e esperanças. E mesmo assim — ou por isso mesmo — caminhamos juntos na mesma direção.
No fundo, talvez a felicidade seja apenas isso:
viver à nossa maneira, sem esquecer a dos outros —
e tentar, enquanto passamos, deixar o mundo um pouco mais leve do que o encontrámos.
© Pedro Miguel Rocha