A Escola Pública é o maior ato de coragem de uma sociedade. É a promessa silenciosa de que nenhum destino está fechado, de que a origem não determina o futuro, de que o saber não pertence a uma elite, mas ao povo inteiro. Num tempo em que tudo se privatiza — do pensamento à atenção — a Escola Pública continua a ser o último território verdadeiramente comum.
É ali que se cruzam mundos que, de outro modo, nunca se encontrariam. Filhos de médicos e filhos de desempregados sentam-se lado a lado, partilham o mesmo recreio, aprendem as mesmas letras. E é desse encontro — imperfeito, real, humano — que nasce a cidadania. Porque a democracia não se aprende nos discursos: aprende-se na sala de aula, quando percebemos que o outro é igual a nós.
Ser aluno na Escola Pública é descobrir que há sempre alguém que acredita. Ser professor na Escola Pública é acreditar mesmo quando tudo o resto parece desistir. É entrar todos os dias numa sala e pensar: “Aqui pode nascer qualquer coisa extraordinária.” E tantas vezes nasce — num olhar, numa frase, num gesto que nenhum algoritmo consegue replicar.
A Escola Pública não é um edifício; é uma promessa. A de que o país não abandona os seus. A de que o talento não tem preço. A de que uma criança, venha de onde vier, pode sempre recomeçar. Num mundo cada vez mais desigual, ela é a última linha de defesa contra a indiferença.
E talvez seja por isso que ela nos entusiasma tanto. Porque, no fundo, todos sabemos isto:
enquanto houver Escola Pública, ainda há esperança.
© Pedro Miguel Rocha