Natal: A Essência Perdida no Brilho das Vitrines

Chega todos os anos, sempre igual e sempre diferente. O Natal, que deveria ser o tempo da pausa e da gratidão, tornou-se um desfile de sacos, luzes e urgências compradas à pressa. As ruas enchem-se de músicas repetidas, os centros comerciais transformam-se em templos improvisados, e o mundo parece acreditar que a felicidade tem etiqueta de preço.

O Natal consumista não começou agora. Mas nunca foi tão ruidoso, tão ansioso, tão distante da sua origem. A celebração que nasceu da ideia de renascimento — de um gesto humilde num lugar esquecido — tornou-se uma corrida para ver quem embrulha mais, gasta mais, mostra mais. É uma ironia amarga: quanto mais acumulamos, menos parece sobrar daquilo que realmente importa.

A verdadeira essência do Natal não está nas luzes, mas na ausência delas. Está na mesa onde cabe quem chega, no abraço que demora, no perdão que finalmente encontra coragem para existir. Está no silêncio que nos devolve àquilo que somos, antes de sermos aquilo que mostramos. O Natal não é espetáculo; é encontro.

Talvez o maior desafio da modernidade seja este: reaprender a simplicidade. Dizer menos, sentir mais. Comprar menos, cuidar mais. Porque a memória que fica nunca é a do presente caro, mas a da presença certa. A do gesto que não se devolve, da palavra que chega no momento certo, do tempo que se oferece sem pedir nada em troca.

O Natal não precisa de ser perfeito — precisa de ser verdadeiro.
E a verdade, ao contrário dos brilhos artificiais, nunca se apaga.

 

© Pedro Miguel Rocha